Opinião: “Eu odeio livros!!” – Parte 1

Foto: Ilustrativa | De Frente com os Livros
Por Sergio Marcone Santos
Pois é, a cada dia que passa a gente lê menos. Ora, você pode muito bem me responder com a seguinte pergunta: “Mas todos não estão lendo muito através da internet e dos aplicativos de bate-papo?”. Respondo: Deixe de ser cínico!!

Uma das coisas que mais me impressiona num livro é como, ao abrir e ler suas primeiras linhas, um objeto daqueles pode carregar tanta coisa, tanta informação, tanto prazer, tanto sofrimento... Ele está ali, parado na estante ou no tablet, você o pega e abre. Pronto. Um mundo inteiro, as galáxias ou tudo aquilo que sua mente pode conceber ou não estará ali.

Alguns argumentos que ouço (ou suspeito) de quem não gosta de ler:

- “Livro é caro”. Um livro custa em média de R$ 43. Uma cerveja custa R$ 8. Você passa um fim de semana sem ao menos tomar dez delas? Se você não bebe, converta o preço do livro no que há de supérfluo em seus hábitos de consumo.

- “Não tenho tempo”. Essa é uma das frases mais infelizes de nosso tempo. Até uma criança sabe que o seu tempo quem define são suas prioridades.

- “Leio, mas não entendo nada”. Aqui a coisa é mais grave. Isso se chama analfabetismo funcional. Você sabe ler, mas não consegue compreender o que foi lido. Minha solução para esse caso está nesse verso de Carlos Drummond de Andrade: “Amar se aprende amando”. Não entendeu?  Leia de novo, associe o que leu com elementos de sua vida, e também com coisas que você já sabe. Todos, de certa forma, somos analfabetos funcionais. Diante de um texto muito complexo, também lemos, relemos, buscamos outras referências para entendê-lo. Analfabetismo funcional é mais um problema de disciplina do que a luta tacanha entre opressores e oprimidos, preconizada pelo patrono da educação e transmutada para as salas de aula em forma de um vale-tudo, em que os professores é que devem ir ao nível de seus alunos, quando, óbvio, deveria ser o oposto.

Outro dia vi o jornalista Diogo Mainardi criticar as campanhas de incentivo à leitura do tipo “Quem lê, viaja” ou  “Ler é um prazer”. Mainardi disse não ver nada disso na leitura. Que o que há é algo difícil, que exige muito das pessoas. Daí vem minha segunda provocação: Leitura liberta o homem?

O livro mais consumido e lido no mundo é a Bíblia Sagrada, e nem por isso faz dos humanos a melhor das gentes. Livro de muitas vozes, de uma beleza e sabedoria ímpares, mas que carrega um vaticínio: as pessoas podem lê-lo para sua própria condenação. É um aviso quanto à sua polissemia, e se aplica à maioria dos livros. Os livros libertam o homem sim, mas o caminho não é fácil. Temos que associar temas, buscar recorrências com a Vida, com outras leituras, com filmes, com sua mulher, com o trabalho... Ora, com tudo!!! Enquanto lemos há uma enxurrada de correlações e sinapses mil ocorrem te convidando a enriquecer seu vocabulário, compreender o que ocorre no Mundo, mudar sua forma de vê-lo e se transformar transformando-o.

Tá bom. A questão é o papel. Afinal, o mundo é digital. Livros digitais também não emplacaram, sobretudo no Brasil. Ambos, bits e papiros, estão de mãos dadas rumo ao mundo vintage, como discos de vinil.

Semana que vem falo porque o humano contemporâneo não quer mais saber dos livros e porque a literatura (sim, ela mesma) lhe diz tão pouco.

Sergio Marcone Santos é formado em Letras Vernáculas pela UEFS e pós graduando em Comunicação em Mídias Digitais pela Unifacs

*As opiniões emitidas em artigos assinados no site Diário da Notícia são de inteira e única responsabilidade dos seus autores.
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