Opinião: Por que detestamos pedestres­?

Imagem: Ilustrativa
Por Sergio Marcone Santos
Nunca fui a Los Angeles. Nem pretendo ir enquanto ganhar três vezes e meio menos que o dólar. Mas sei ser esta cidade “feita” para carros. Suas enormes highways ligam a cidade de ponta a ponta, fazendo dali um lugar, no mínimo, diferente de Nova Iorque em que se pode circular à pé por quarteirões com segurança e com o olhar deslumbrado típico para a uma megalópole.

Feira de Santana passa longe de Los Angeles. Precisamente a 9.817 quilômetros. Mas aqui também pedestre não tem vez. Abaixo elenco uns pequenos casos, que certamente terão um motivo ou legal ou de engenharia ou, quem sabe, de esquecimento para detestar pedestres. Então vamos lá:

Passagem da Rua Senador Quintino (bairro Jomafa) para a Rua Olney Alberto São Paulo, continuação da própria  Senador Quintino sentido bairro do Aviário. O que faz uma bela reforma como aquela feita neste trecho do Anel de Contorno não fornecer ao pedestre alternativa para cruzá-la? Chegando ali, teremos que chamar por Deus, ou qualquer Ente em que você tenha fé, para disputar com carros e caminhões alguns metros que requerem muita atenção, sob pena de engrossar as estatísticas de atropelamento.

Há uma grade enorme com algumas pequenas porteiras. Não há sinalização indicando-as. Não existem possibilidades fáceis de entrar e sair de lá, dada a distância em que essas porteiras se encontram. Há uma solução: disputem espaço com os carros e cuidado para não serem acertados pelo sobe-e-desce das cancelas eletrônicas. Sim, falo do shopping center. O que faz um centro comercial não privilegiar também a entrada de pessoas à pé? Não raro me pego sem saber ao certo onde tem uma porteira que me faça adentrar àquele local. Se desço do ônibus, sim, tenho uma porteira à disposição. Ok. Mas suponhamos que more em Quijingue e esteja aqui à passeio. Por onde mesmo devo entrar? O acesso pela Av. João Durval Carneiro – endereço “oficial” do shopping -, tem duas cancelas de carros à esquerda, logo disputaremos com eles o acesso; o já dito ponto de ônibus no meio e uma cancela desativada com uma corrente (você não leu errado) mais à direita. Posso também pular essa corrente, mas não aconselho mulheres de saia e idosos a praticarem essa atividade.

Sei. Temos o nome “feira” e nascemos de uma. Mas quão contraproducente é termos uma infinidade de carros de mão, barraquinhas, barraconas, ambulantes, bancas etc. no centro da cidade, no qual possíveis clientes não conseguem passar? Não vou aqui falar de comerciantes estabelecidos que pagam impostos e estão sem condições de receber seus clientes ou por concorrência desleal dos ambulantes ou por falta de logística para que eles entrem em seus estabelecimentos. Mas falo do caos dessa região. Na avenida Senhor dos Passos, rua Sales Barbosa e rua Marechal Deodoro não  podemos andar com facilidade. Ora, se não posso me locomover, vou optar por um lugar em que esse meu direito constitucional possa ser exercido, quem sabe nos comércios pujantes da Cidade Nova ou Tomba.

Peço desculpas pela minha falta de ambição em apontar soluções. É que mobilidade urbana é assunto por demais delicado e que requer um saber ao qual passo longe, o que não impede de apontar o incômodo que a falta dela causa a muitos de nós. Também não falei nos problemas econômicos por que passamos e que podem ser motivo para tamanho aumento da população no centro da cidade, já que esses problemas (mobilidade e crise, ou, se você preferir, mobilidade em/na crise) são de outros carnavais, digo, micaretas.

A propósito, há uma rua Los Angeles no Parque Getúlio Vargas. Lá se pode andar.
Sergio Marcone Santos é formado em Letras Vernáculas pela UEFS e pós graduando em Comunicação em Mídias Digitais pela Unifacs

*As opiniões emitidas em artigos assinados no site Diário da Notícia são de inteira e única responsabilidade dos seus autores.
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