Após se mostrar contrário ao candidato Jair Bolsonaro, capoeirista é esfaqueado e morre em Salvador

Foto: Reprodução | Arquivo de família
Uma discussão por motivação política acabou com a morte do compositor e capoeirista Romualdo Rosário da Costa, 63 anos, mais conhecido como Moa do Catendê. Segundo a família, Moa estava em um bar perto da casa de um irmão, quando acabou esfaqueado por outro morador da localidade, após se mostrar contrário ao candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL). O crime ocorreu por volta da meia-noite em frente ao Dique do Tororó, na comunidade do Dique Pequeno, Engenho Velho de Brotas.

Primo de Moa, Germinio do Amor Divino Pereira, 51, também foi atingido com um golpe de faca no braço direito durante a confusão e foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde permanece internado. Na ocorrência registrada no posto policial da unidade, testemunhas identificaram o autor das facadas como sendo o barbeiro Paulo Sergio Ferreira.

Irmão de Moa, Reginaldo Rosário, 68, conta que estava bebendo com as vítimas, no Bar do João, quando o autor da facada começou a defender ideias do candidato do PSL, ouvindo críticas do capoeirista que era um eleitor do Partido dos Trabalhadores (PT).

"Moa ponderou que era negro e que o cara ainda era muito jovem e não sabia nada da história. Moa disse ainda que ele tinha consciência do quanto o negro lutou para chegar onde chegou e o quanto Bolsonaro poderia tirar essas conquistas se chegasse ao poder", disse Reginaldo.

Ainda de acordo com o irmão das vítimas, após a discussão acalorada, um dos irmãos pediu que Moa ficasse calmo, no entanto, após a situação ter sido contornada, o autor da facada teria ido em casa, retornou com uma peixeira e atacou a vítima nas costas. "Foi tudo muito rápido. O cara foi em casa e voltou portando a arma. Chegou 'voando', atingindo meu irmão pelas costas. Foi muito difícil ver meu irmão naquela situação sem poder fazer nada", disse.

Filha do compositor, Somanair dos Santos, 35, conta que recebeu uma mensagem do pai nas primeiras horas da manhã do domingo (7) avisando que iria até sua zona eleitoral. Logo após a meia-noite, ela recebeu outra ligação de um parente avisando sobre o crime. Quando chegou ao local, encontrou o pai ensanguentado e sem vida.

"O homem chegou com os ânimos exaltados e ele (pai) pediu para parar. Já estava tudo aparentemente cessado, mas ele chegou na covardia, esfaqueando meu pai sem defesa alguma. Não teve nenhuma defesa porque era um homem sem maldade", conta.

Segundo ela, Moa tinha uma viagem marcada para São Paulo nesta segunda-feira (8). Ela afirmou que o artista se apresentaria com o grupo de afoxé Amigos do Catendê.

Também filha de Moa, Jesse Mahi disse que o pai tinha um comportamento tranquilo e que se mostrava favorável às ideias do PT, mas nunca tinha se envolvido em discussões políticas.

"O legado dele não acabou, existe muito a ser feito. Meu pai era fanático pelo partido, ele nunca foi a favor dos princípios da direita", disse.

Uma amiga do compositor, Inácia Alves, 51, diz que Moa era um agitador cultural do bairro e que sempre foi preocupado com a conquista das minorias. "Não consigo descrever tanto ódio. É só o começo do que está por vir. Essa atitude representa o partido e suas ideias", afirmou.

Autor foi preso

Policiais militares da 26ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) prenderam em flagrante, na madrugada desta segunda (8), o autor do homicídio, o barbeiro Paulo Sérgio.
Acusado chegando no DHPP | Foto: Marina Silva  | Correio
Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada pelo Centro Integrado de Comunicações (Cicom), com informações de que dois homens tinham sido atingidos por golpes de faca e deslocou uma equipe para o local. Lá, os policiais receberam a denúncia de que o autor do crime teria fugido para um beco próximo e iniciaram as buscas.

"Os policiais avistaram um rastro de sangue que levava até uma casa e prenderam em flagrante o homicida escondido no banheiro. Ele já estava com uma mochila com roupas no intuito de fugir", informou a nota da PM.

Ainda de acordo com a polícia, o homicida foi levado para o HGE para ser medicado, pois estava com um corte no dedo, e depois apresentado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. Paulo Sergio Ferreira chegou ao DHPP, no final da manhã, cabisbaixo, tentando esconder o rosto com as mãos, e na presença de dois policiais civis. Ele estava com a mão esquerda enfaixada trajando apenas um short sujo de sangue.

De acordo com a delegada Milena Calmon, responsável pelo caso, o agressor vivia há cerca de dois meses no bairro. Em depoimento à polícia, Paulo Sérgio disse que estava discutindo com o dono do bar, quando Moa e o primo se envolveram na conversa.

No momento, diz a delegada, o agressor apoiava as ideias do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e as vítimas se mostraram contrárias. Paulo Sérgio nega que estivesse tratando de questões políticas.

O sepultamento do Mestre Môa do Katendê será nesta segunda, às 16h30, no cemitério na Baixa de Quintas, Ordem Terceira, sala 3.

"O acusado entra em contradição o tempo todo. Também podemos reparar que ele não demonstra arrependimento, pela firmeza que fala", destaca a delegada. Ainda segundo Milena Calmon, Paulo Sérgio tem duas ocorrências na polícia. A primeira em 2009, quando se envolveu em uma briga com quatro homens. A segunda, em 2014, quando ameaçou um adolescente que pedia esmola. Informações do Correio.
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