Pesquisa da Ufba é a única do Nordeste a ganhar prêmio do Google

Foto:  Arquivo Pessoal
Você sabe o que é inteligência artificial (IA)? Ela faz com que máquinas imitem o comportamento humano usando uma base de dados e, é o fundamento da pesquisa de doutorado em computação de Brenno Alencar, 26 anos, aluno do Instituto de Computação da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Junto ao orientador Ricardo Rios, 40, o doutorando quer ajudar a preservar o meio ambiente usando a tecnologia. A pesquisa deles foi uma das 24 premiadas – a única no Brasil fora do Sudeste – no projeto Latin American Research Awards (Lara), do Google. A premiação coloca a Ufba entre as melhores universidades da América Latina. 

No total, foram 700 projetos inscritos. Dos 24 ganhadores, três são da Argentina, três do Chile, dois do México, um do Peru, um do Uruguai e 14 do Brasil, sendo 13 divididos entre Minas Gerais e São Paulo. No Nordeste, o único premiado é o de Brenno e Ricardo. 

A pesquisa “Um reforço na detecção de mudanças ambientais para vigiar as florestas e apoiar ações sustentáveis” tem o objetivo de desenvolver uma inteligência artificial que seja capaz, através de treinamento, de monitorar informações relacionadas ao meio ambiente nas florestas, identificando alterações como queimadas e desmatamentos e, dessa forma, gerar um alerta assim que qualquer mudança for detectada. Serão integrados dados vegetacionais, meteorológicos, sociais e econômicos para realizar previsões, com maior precisão, de eventos que podem impactar espécies animais e vegetais. 

“Temos uma parceria com uma universidade da Nova Zelândia. Eles têm um projeto semelhante que analisa dados de lá e nós vamos analisar aqui. Queremos poder fazer previsões e criar um sistema que possa gerar um alerta de mudança de comportamento para a gente agir para reduzir o impacto do fenômeno”, explica Brenno Alencar. 

O doutorando acrescenta que o projeto foi submetido em novembro do ano passado e o resultado veio no último dia 10. A partir de agora, além da bolsa mensal no valor de R$ 6,3 mil (US$ 1,2 mil) para ele e de R$ 3,9 mil (US$ 750) para seu orientador, a dupla vai poder ter contato com pesquisadores de alto nível vinculados ao Google, bem como ter acesso às bases de dados fundamentais. “Essa técnica pode ser utilizada para diferentes aplicações, em vários tipos de cenários.

Queremos estudar a região Nordeste, depois o Brasil e também expandir para um cenário global”, conta o orientador Ricardo Rios. “É muito importante detectar um determinado evento o mais rápido possível. E não é só coletar informações, mas analisá-las para entender como as ações humanas têm impactado na fauna e na flora ao longo do tempo”, completa. Brenno conta que a notícia da premiação foi bastante comemorada e veio em boa hora. 

“Fiquei muito feliz. É um momento muito difícil para o campo de pesquisa no Brasil, que se agravou com a pandemia. Temos sofrido muitos cortes de financiamento, então conseguir esse suporte do Google faz com que a gente tenha mais incentivo para continuar trabalhando, fazendo novas descobertas e colocando em prática nossas ideias”, diz. O orientador concorda e cita ainda a ida de pesquisadores brasileiros para fora do país.

“O campo da pesquisa tem encontrado muita dificuldade hoje em dia. Está acontecendo uma fuga muito expressiva de pesquisadores do Brasil inteiro para o exterior porque pesquisas de maior investimento estão totalmente inviáveis”, coloca. Ricardo Rios defende que as pesquisas no campo da biodiversidade são essenciais e precisam ser apoiadas.

“Nos últimos dois anos, temos relatórios publicados por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC / ONU) alarmantes, mostrando que as nossas ações têm impactado a biodiversidade e o clima, por exemplo, de uma maneira sem precedentes. O secretário geral das Nações Unidas avisou que esses relatórios representam um código vermelho para a humanidade”, alerta. O orientador ainda destaca que a mistura do tema meio ambiente com questões eleitorais prejudica o avanço da ciência. 

“Falando especificamente do Brasil, a discussão sobre meio ambiente acabou ganhando um viés político não desejado, gerando articulações totalmente equivocadas. Precisamos ter cuidado com o impacto disso, das notícias falsas, dos discursos fraudulentos. O meio ambiente não é um vilão, a gente tem que buscar o desenvolvimento sustentável”, finaliza Rios.

Fonte: Correio 
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