Opinião: Procura-se

Foto: Ilustrativa | Jornal de Mafra
Por Sergio Marcone Santos
O impeachment é um instituto que vem lá da Inglaterra do século XIV. É um impedimento. Barra-se algo que não esteve bem, regulado pela Constituição e no nosso caso, também sob o aval do Supremo Tribunal Federal, que estabeleceu o seu rito, ou seja, um passo-a-passo de como ele deveria ser feito na Câmara dos Deputados e no Senado.

No Brasil pós ditadura já tivemos que usar desse expediente duas vezes. Uma com o ex-presidente Fernando Collor em 1992 e agora em 2016 com a presidente Dilma Rousseff. É um drama sempre, pois interrompe-se na democracia a sua face mais cara: o poder de eleger um presidente emana do povo através do voto, mas para impedir esse mesmo presidente, o poder emanará do povo mas através de seus representantes: deputados e senadores. Daí o drama: não nos sentimos representados a ponto de delegar tamanho poder àqueles homens que, na maioria das vezes, nunca ouvimos falar.

Mas regras são regras e eis que temos hoje uma presidente afastada por 180 dias (dá para dar a volta ao mundo, se quiser), podendo ser totalmente impedida de retornar ao seu cargo definitivamente. Estamos arrasados economicamente, com muitos decepcionados por ter acreditado que o fato de ter o nome “trabalhadores” na sigla, referiam-se a nós, labutadores, que acordam cedo, batem cartão e deixam 40% do salário em impostos. Corruptos também trabalham muito, também são trabalhadores. Seu trabalho consiste em tirar de você o feijão e o arroz do seu prato, a escola de seu filho, o esparadrapo do posto de saúde.

Todos os corruptos têm ou tinham empregos. Nós não. Nós, os desempregados, somos 11 milhões em busca do “procura-se” dos sites de empregos e classificados. Segundo o Caged – o cadastro geral de empregados e desempregados do Ministério do Trabalho - , quem mais está perdendo emprego é quem tem curso superior, num aumento de 10,8% em doze meses. O número de quem perdeu emprego com alta qualificação chega a 1,014 milhão nesse período. Vejam aqui algo trágico: seu diploma hoje não está valendo nada no mercado de trabalho. Os administradores lideram a lista de demitidos, seguidos de professores da área de formação pedagógica do ensino superior, engenheiros civis e afins, programadores avaliadores e orientadores de ensino, advogados, engenheiros industriais, de produção e segurança. Não adiantou nada ser presidente do D.A. e decorar o que Gramsci escreveu no cárcere. Como diria aquele senhor da TV: “Você está demitido!!”. Eu acrescentaria: “É a realpolitik, estúpido!!”.

Em Feira de Santana os vendedores do comércio lideram a lista de desempregados, seguidos dos atendentes de telemarketing, frutos do desaquecimento das vendas. O que chama a atenção em nossa cidade é o silêncio das autoridades. Ninguém fala nada a respeito de nada. É como se todos os nossos problemas fossem sanados quando um túnel for construído ou quando aquela praça tiver grama. Não comemos concreto, nem grama. Se somos vítimas de uma política econômica desastrosa que atinge a todos, tragam-nos ideias, incentivos, falem sobre economias criativa e solidária, enfim, uma palavrinha só, de preferência seguida de ações, que denote sair dessa letargia em que nos metemos e que teimamos em não sair.

O desemprego nos arrasa como humanos. Nos ultraja. Os empregos, ao contrário, nos dão sanidade. Conviver com colegas, receber promoções de funções, aprender, ensinar, exercitar o amor de Cristo através das diversas (co)relações que o trabalho proporciona, comer, beber, criar filhos, planejar, são algumas pequenas/grandes coisas que o labor nos proporciona.

Após os 180 dias de afastamento, a presidente também deve entrar nessa estatística horrorosa do desemprego, mas terá uma pensão vitalícia para se sustentar que é dada a todo ex-presidente. Será uma desempregada com salário. Enquanto isso, tiro a naftalina de cima de meu diploma e mando uns curriculuns. Digo para mim mesmo: “É a realpolitik, estúpido!!!”

Sergio Marcone Santos é formado em Letras Vernáculas pela UEFS e pós graduando em Comunicação em Mídias Digitais pela Unifacs

*As opiniões emitidas em artigos assinados no site Diário da Notícia são de inteira e única responsabilidade dos seus autores.
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