Opinião: Feira é uma cidade de doentes

Imagem: Ilustrativa | Blog do Doutor
Por Sergio Marcone Santos
Feira de Santana é uma cidade de doentes.

Explico.

Quando ando pela cidade, vejo em cada canto quatro lugares que recebem doentes. Há ruas, bairros em que esses lugares praticamente são construídos uns em cima dos outros tal a quantidade exorbitante.

São eles: igrejas, bares, salões de beleza e farmácias.

Todos são lugares de doentes.

A igreja, além de lugar de adoração e louvor, é um espaço dedicado aos que sofrem de males (doenças) do espírito e também do corpo. As bênçãos e a misericórdia de Deus agem sobre esses “pecados” e os salvam. Alguns dizem que as igrejas são exclusivas para esse tipo de sofredor. Daí que há uma amontoada à outra em determinados bairros, com os nomes mais criativos e prometendo o que nem Deus pode cumprir.

Bares são uma delícia. É um local de beber coisas boas geladas ou quentes, bater papo, paquerar, enfim, permite uma integração social. Mas lá também tem os dependentes químicos e psicológicos. As pessoas que são assim, não raro voltam para casa e brigam com esposas, pais, mães, filhos. Batem carros, atropelam  pessoas e animais, traem, entram em falência, dão vexame, morrem. Sugiro que deem uma olhada em seu bairro e vejam quantos bares há. Em seguida,  tente multiplicar por cada horror elencado aqui.

Os salões de beleza são necessários desde que o mundo é mundo. Torna mais belo o que já o é e dá um jeito naquilo que não veio tão perfeito assim de fábrica. Levanta a auto-estima e, afinal de contas, beleza se põe na mesa sim. Mas, dada a quantidade em que estes estabelecimentos existem, dá-me a impressão de um certo narcisismo exacerbado e uma insatisfação com seu eu que parece não cessar. Os salões andam lotados diuturnamente. Estariam os clientes vivendo seu momento “retrato de Dorian Gray”?

Farmácias... Maravilhas!!! Sempre que vamos a uma comprar um Dorflex ficamos olhando as gôndolas e prateleiras em busca de mais um remedinho . Para isso, nos voltamos para nosso interior vasculhando que coisa naquele momento está doendo, ou má digerindo...  o que importa é que estejamos sentindo algo para comprarmos mais um unguento. Aí sim satisfazemos. Para além do simples dorflex da vida, pela quantidade de farmácias em nossa cidade dá para se acreditar que realmente somos doentes. Bem doentes.

A cada ano, redes de farmácias poderosas de outros estados compram imóveis caros em lugares cujo metro quadrado vale uma fortuna, para colocar aquele oásis de antiácidos, de viagras, enfim, a cura para todos os males.

Somos em torno de 700 mil habitantes. Não acredito que outros segmentos tenham tanto crescimento em nossa cidade quanto estes. Não tenho os números oficiais. Tudo aqui foi no olhômetro.

Mas vou dar uma de sociólogo de botequim e estabelecer um modus vivendi para nós, feirenses.

Primeiro nós vamos ao salão para nos embelezar. Em seguida, vamos ao bar, já bem bonitos, porque ninguém é de ferro. De ressaca, recorremos à farmácia. É lá que mora dona Neosa. Depois vamos à igreja, pedir perdão e curar nosso vazio. (Não necessariamente nessa ordem)

Isso que eu chamo de vida em círculos, ou melhor, vida em anel de contorno.
Sergio Marcone Santos é formado em Letras Vernáculas pela UEFS e pós graduando em Comunicação em Mídias Digitais pela Unifacs

*As opiniões emitidas em artigos assinados no site Diário da Notícia são de inteira e única responsabilidade dos seus autores.
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