A partir daquele momento, a pesquisa que eu estava fazendo passou para o plano secundário, terciário ou até mesmo à milésima ordem de interesse. Fechei então aqueles exemplares de muitas décadas atrás, e, num piscar de olhos, eu já estava na Gráfica Sanfelista (o gentílico sanfelixta, com “x”, não se aplica à gráfica citada, que foi registrada daquela forma), sentado à frente do amigo José Raimundo. Era ali, naquela gráfica – sendo José Raimundo, porém, o novo dono – que o “Correio de São Félix” era impresso antes da sua desativação, cerca de três décadas antes. Raimundo imediatamente abraçou a ideia da reativação. Ele conhecia o dono do jornal, Osmar de Azevedo Moreira – amigo de longa data –, residente em Salvador, e ficou de contatá-lo para informar a boa nova e pedir a devida autorização para o retorno às ruas do jornal histórico. Assim foi feito. Porém, antes mesmo da aquiescência do proprietário, Raimundo me incentivou a tomar todas as providências necessárias para o empreendimento. Assim, entrei em contato com três amigos que logo formariam a equipe que me ajudaria a fazer o gigante ressurgir das cinzas: Valdelice Santos, Leandro Leite e Rafael Pereira.
Após três meses de muito trabalho, aquele início de março de 2013 foi bastante importante e significativo, não só para nós, da equipe, mas principalmente para o município, que finalmente via em suas ruas, depois de quase trinta anos, o retorno do “Correio de São Félix”. É imprescindível registrar aqui que a surpresa foi muito grande em toda a cidade, essencialmente para o pessoal da velha guarda, que guardava boas recordações de épocas transatas e daquilo que costumam ler nas páginas elaboradas pela tipografia de Luiz Gonzaga Dias, ao longo das quase quatro décadas em que o jornal esteve sob a sua responsabilidade. No que tange à nova geração, muita gente sequer sabia que São Félix já tivera tantos jornais e que o “Correio de São Félix” era apenas um deles. A surpresa para estes também foi grande.
Não posso esquecer de registrar também aqui a pessoa de Antônio Antydio Luiz, que fundou o periódico em 29 de abril de 1934. Mas ele não ficou muito tempo à frente do “Correio de São Félix”. Dez anos depois da fundação do jornal, Antydio Luiz resolveu se dedicar exclusivamente à contabilidade, em Cachoeira, ficando na direção do “Correio de São Félix” até o dia 20 de agosto de 1944. O impresso então foi vendido para Luiz Gonzaga Dias, igualmente com o seu maquinário, em 27 de agosto de 1944.
Voltando da minha digressão, desde 2013 – com uma ou outra rápida parada para podermos respirar melhor – venho cumprindo a missão de preservar a cultura do jornalismo impresso em nossa região. Para um ou outro leitor desta crônica que possa ignorar tal informação, o “Correio de São Félix” é o único jornal impresso em atividade nas cercanias de São Félix. É o único que continua – mesmo com todos os problemas oriundos da injusta competição com o mundo tecnológico – sobrevivendo e fazendo história.
Para escrever estas linhas, me surgiu uma curiosidade, e, após uma busca minuciosa em nossos arquivos, verifiquei, impressionado, a quantidade de páginas que, como editor-chefe, eu já consegui publicar nesses últimos doze anos: cerca de oitocentas. Sim, oitocentas páginas, um número impressionante, que diz muito dessa nossa tarefa de resguardar a história da nossa cidade, pois, através delas, estamos ajudando a escrever capítulos importantíssimos de São Félix. Páginas que futuramente também serão consultadas por outros tantos pesquisadores, sequiosos por saber aquilo que hoje marca os nossos dias. Esses nossos dias tão céleres, esses nossos dias tão... tudo.
Sim, são oitocentas páginas, que, entretanto, não se comparam às outras milhares publicadas, ao longo de décadas, por Antydio Luiz e, principalmente, por Luiz Gonzaga Dias. Por isso, embora oitocentas páginas sejam um número significativo, tenho a absoluta consciência de que o trabalho só está começando... E, para lembrar, na próxima terça-feira, 29 de abril, o velho “Correio de São Félix” estará completando noventa e um anos de fundação. Mas, por incrível que pareça, não será interessante comemorarmos essa data tão especial apagando a velinha, pois, se já reconhecemos a importância desse trabalho, simplesmente cabe a cada um de nós manter essa chama sempre acesa. São Félix, 27 de abril de 2025.
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