Desinteresse por política faz TSE registrar menor número de títulos entre jovens em uma década

Foto: Divulgação
São exatos 185 dias para as eleições que definirão os principais cargos da política para os próximos quatro anos. Quem vai ter a primeira experiência diante das urnas tem cerca de um mês para tirar o título de eleitor e poder votar no dia 2 de outubro. O prazo termina no próximo dia 4 de maio. Em todo o país, 850 mil jovens de 15 a 18 anos emitiram o documento este ano.

Quase 100 mil — 96.425 para ser mais preciso — foram somente na última semana. O número pode parecer alto, mas está aquém de anos anteriores. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em dez anos, a redução da procura pelo primeiro título de eleitor foi de quase 80%. Em 2012, 4.049.240 novos eleitores se cadastraram. Levando em consideração apenas a Bahia, a redução se mantém significativa. 

Há dez anos, foram 315.969 baianos votando pela primeira vez. Já este ano, apenas 44.014 eleitores se habilitaram no estado. O número não representa nem 10% dos 488 mil jovens identificados como aptos no estado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contrariando as estatísticas, a estudante Júlia Sodré não esperou nem mesmo o ano de eleição para tirar o documento. Com 16 anos completos em maio de 2021, a jovem buscou logo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para emitir o documento.

“Na mesma semana do meu aniversário fiz meu título. Acredito que ter passado minha adolescência numa quarentena e ver o descaso do governo me fez querer participar do processo eleitoral”, explica. Para Júlia, o incentivo da família foi fundamental. “Meus pais sempre foram muito envolvidos com política, então sempre fui incentivada a defender meus interesses e direitos. É muito importante que essa nova geração, que é tão envolvida com causas sociais, participe das eleições se quiser mudar o destino do país”, defende.

Do outro lado, o jovem Gustavo Guimarães, de 17 anos, decidiu que só votará quando for obrigado. “Não me sinto pronto, nem motivado a votar. Pra mim nenhuma das opções que teremos são boas. Não quero votar em nenhum desses candidatos, então acabo sem vontade de me envolver”, diz o jovem que admite que, além do cenário político, um pouco de preguiça de dar entrada no processo também influenciou na decisão de deixar o voto só para quando for obrigatório. Já Daniella Valladares, 16 anos, decidiu não votar mesmo depois da conversa com a família. 

“Na minha família existem pessoas que querem que eu vote e outras que não fazem questão. Estou do lado das pessoas que não fazem questão. Ainda não me sinto preparada para tomar uma decisão julgada socialmente como importante e essencial”, diz a jovem. Para a estudante, a falta de interesse na política falou mais alto. “Nunca me interessei por política, talvez esse seja o principal fator que me fez decidir esperar para tirar o meu título de eleitor. Enquanto eu puder evitar, não tenho interesse em votar”, opina. 

O professor de Direito Constitucional da Unijorge, Fábio Periandro, acredita que a baixa procura dos jovens é reflexo de um conjunto de fatores importantes. “Muitos jovens não sabem o quanto hoje em dia esse processo de tirar o título está tão mais facilitado do que era no passado. Outro ponto pode ser realmente uma falta de interesse na questão política. Existe essa sensação de que é um problema do país, mas não deles”, explica. 

“Eles podem até não gostar do que estão vendo e vivendo. Mas isso não impulsiona eles a querer mudar através do voto”, completa. O cientista político da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Maurício Silva, acrescenta, ainda, que a baixa procura pode estar ligada a um movimento de desestímulo à participação política como um todo. 

“Desde 2013, vem surgindo movimentos que fazem um forte questionamento à estrutura política institucional. O discurso de lá para cá é um discurso de política institucional, de toda sua estrutura, inclusive do voto. O voto passa a não ser mais estimulado. Nessa mesma rota, o presidente Bolsonaro representa também essa parte da sociedade que questiona a política tradicional. Ele coloca em xeque as instituições que coordenam a estrutura do voto. A mensagem que é transmitida, mesmo que de forma subliminar, é de ‘porque eu vou participar se essa estrutura não funciona?”, explica. Outro ponto destacado pelos especialistas diz respeito ao cenário polarizado que tem se desenhado para as eleições de 2022. 

“Tem muita gente direcionando o alistamento, pedindo que a pessoa tire o título para que vote nesse ou naquele candidato e isso não é democracia. O correto é incentivar que o jovem se insira no contexto eleitoral e que exerça o papel cidadão. Que busque as informações, e que através do voto, dê a sua opinião. Talvez, esse direcionamento na hora do incentivo ao título, que leva pra um ou outro candidato, esteja desestimulando uma geração que historicamente não aceita cabresto”, acredita Fábio Periandro.

Fonte: Metro 1
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